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não foi por acaso


ela sabia.
foi um exercicio de abnegação disfarçar, fingir, alimentar esperanças ao longo daqueles meses.

um carinho no cabelo, um beijo na testa, mãos dadas durante caminhadas ou no cinema: pequenos gestos que justificavam sua teimosia.

resolveu não enxergar o óbvio, como se tivesse desenvolvido um tipo de miopia emocional que progressivamente ia desfocando sua distância afetiva.

mesmo quando o amor tinha se tornado uma massa disforme e difusa, ela insistiu.

só se tocou quando ao acordar havia ao seu lado na cama apenas uma mancha úmida.
o calor dissipado pelo corpo dela era responsável pelo estranho fenômeno:
ele havia evaporado.

2 comentários:

Marion Crane disse...

Descreveu perfeitamente o que eu sentia, sem tirar nem pôr. Passou. Passou faz tempo, mas só agora enxerguei que era mais por teimosia do que por amor, e que cada migalha era um motivo pra ficar.
Estava com saudades dos seus textos!!

Beijos!

Fabi de Andrade disse...

Éteres são voláteis
Por isso se espalham
Entranham, sufocam
E vão embora, fugazes.