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meus cabelos vermelhos e esse vestido amarelo não disfarçam: minha cor é gris

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eu vim ao mundo com duas lentes macro no lugar dos olhos
me apego aos detalhes às texturas
e me assusto facilmente com a formiga gigante dentro do pote de açúcar

me dói mais um espinho no pé que um murro no estômago

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os animais selvagens e as dores deveriam ser inomináveis
determinadas coisas não cabem em palavras
como denominar esse sentimento de orvalho
que fica na beira dos olhos na hora da despedida

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não sou lá muito afeita aos sinais de pontuação
esses trombos que ficam entre um sentimento e outro
e interrompem o fluxo sanguíneo da poesia

cretinices de amor


talvez se eu
pudesse me virar do avesso
e pôr na mesa
sentimentos e entranhas

e se você
botasse as mãos lá dentro
tateasse com delicada excitação
achasse o teu nome bordado em meu ventrículo esquerdo

juntaria os pedaços
ou puxaria o fio
se assim fosse
deixaria o sangue e a saudade escorrerem quentes pelo chão
ou iria buscar um balde
?

existencialismo fashion


difícil é encontrar
uma roupa que caia
bem sobre esse peito
aberto com as costelas
engaiolando meu coração

e que com combine com meus sapatos azul-magritte

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qual a matéria da poesia
a cor da angústia
a gramatura da dor

quero imprimir
minha alma numa gráfica
rápida

distribuir nas esquinas
como propanganda de agiota
e vê-la voar raso pelas calçadas sujas da conde da boa vista