felicidade devia ser vendida em armarinho
entre botões e fitas de cetim
no setor de miudezas.
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por ser assim
encontrar uma forma de se adequar ao mundo. essa era uma de suas maiores preocupações. acostumada a ausência de intermediários entre sua pele e a atmosfera, o toque do tecido era como tortura. mais que isso: amarrava seus movimentos, pesava sobre o corpo deixando seus passos mais pesados. para não mencionar os sapatos, aquelas âncoras de couro e borracha que isolavam seus pés da terra. locomover-se assim era como ser cega. pois ela sabia dos caminhos pelas pedras ou pela direção do vento que passava sob seus braços.
assim, aprender a ser gente, fabricar-se nesse bicho coberto de predicados e adjetivos, foi tarefa das mais difíceis. como uma criança que tem dificuldade para ler, ela se deixou torturar por castigos e lições. aprendeu aos poucos a pisar com passos mais curtos e retos, a não andar de braços abertos na rua e não rodopiar quando o vento mudasse de direção. aos poucos desaprendeu a ler as saliências do chão com a sola dos pés, esqueceu a língua formigas, as folhas já não sussurravam segredos em seus ouvidos e dançar virou uma atividade restrita aos salões e a passos indexados.
havia se tornado mulher.
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dos desencontros
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