Depois de dois anos morando fora, voltei para casa dos meus pais. Remexendo em minhas coisas (que a essa altura já foram parar na garagem) encontrei minhas agendas: os diários da minha adolescência, tempo em que o maior problema da minha existência era Felipe Mendonça do 1° C não retribuir meus olhares.
Mas entre papéis de chocolate e poesias do Vinícius, encontrei vestígios da Amanda de hoje. Do alto dos meus 14 anos já detestava filmes dublados, donzelices, pessoas mal vestidas e festas de 15 anos. Descobri também que minha maior felicidade ao trocar de turma no primeiro ano de escola foi descobrir que nela só havia 10 meninos e 32 meninas(!!!). Mas nem adianta pensar: que sapinha safada! Nessa época eu estava ocupada demais em ter paixões platônicas por meninos que não davam a menor bola para mim. Além do mais, em breve descobria que a maioria das 32 era insuportável, que os meninos eram muito mais legais e que eles é que seriam meus amigos durante todo o 2º grau.
Lembrei de como eu me sentia diferente dos outros (e gostava disso!), do meu gosto por escrever, da paixão pela poesia, de como eu me sentia segura por ser quem eu era e por minha beleza fora dos padrões. Eu já estava ali. Não importa o quanto a escola e os outros tentassem me dizer que o certo é ser igual, que existe um Deus cruel e vingativo, que mulher que anda fora da linha pode ser chamada de puta ou sapatão (eu fui chamada dos dois, claro! e sem motivo, juro!) e que a felicidade está endereçada só pra quem chegar ao fim daquela linha sem ter pisado fora.
E foi ali, em meados de abril 1996, que dei de cara com uma frase esquecida desde então, e que hoje entendo melhor: “Faze do teu delito o vão que te permite ver o sol”. Como se com a minha sabadoria larga e rasa de 14 anos, eu tivesse colado aquele conselho ali sabendo que 13 anos depois o teria posto em prática.
Mesmo que o meu “delito” tenha ocorrido tão longe de casa e do olhar tão crítico da minha mãe, me sinto orgulhosa dos meus “pecados” e do caminho ensolarado que percorro desde então.
ah! a frase é da Cássia Eller